No seu segundo capítulo, a exortação apostólica Catechesi Tradendae fala dos tempos apostólicos, nos faz lembrar a missão que Jesus deu a seus discípulos: “Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco, todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,19-20) É um recado final deixado pelo Ressuscitado. Jesus não pediu que eles ficassem sozinhos, trancados em casa; quis que eles fossem ao encontro de todos os que precisam conhecer o que Ele veio nos oferecer. E declarou que estaria com eles, inspirando e fortalecendo o trabalho nessa missão. Eles foram e, se não tivessem ido, hoje não conheceríamos Jesus. Enfrentaram perseguições e dificuldades mas se fortaleciam sabendo que Jesus estava com eles. O papa Francisco hoje fala bastante de uma “Igreja em saída”, encarregada de seguir essa orientação final de Jesus. Nossa catequese é feita na comunidade eclesial, mas também precisa, em certos momentos, se colocar “em saída” para ir ao encontro dos que estão em situações especiais.
Os apóstolos foram transmitindo a outros a missão que Jesus lhes dera. Hoje somos nós os escolhidos para esse importante trabalho. Quando lemos as cartas apostólicas do Novo Testamento, percebemos que a linguagem se adapta às necessidades de seus destinatários, sem deixar de ser totalmente fiel ao ensinamento de Jesus. Com isso, os apóstolos ampliaram o conjunto de cristãos, indo além das suas comunidades judaicas iniciais. Mais tarde, a cristandade se tornou um elemento cultural dominante em grande parte do planeta. Mas hoje temos uma nova realidade e as pessoas precisam de fato conhecer bem Jesus e se comprometer profundamente com Ele. Não vale ser cristão de nome apenas, é preciso ter cristãos de fato, envolvidos com firmeza na tarefa de testemunhar o tipo de vida que Jesus veio nos ensinar.
Catechesi Tradendae apresenta a catequese como um direito que as pessoas têm de conhecer Jesus e como um dever, que cabe à Igreja, de cumprir a missão que Jesus entregou aos apóstolos. Combinando essas noções de direito (que precisa ser atendido) e dever (que é um compromisso nosso), precisamos de uma certa flexibilidade para ir ao encontro dos que estiverem em situação especial. É claro que a catequese precisa ter uma boa organização mas nossos horários, calendários e regulamentos devem ter alguma abertura para os que têm situações de vida que geram impedimentos válidos. Podemos pensar, por exemplo num caminhoneiro que precisa passar tempo na estrada, numa enfermeira que tem plantão no hospital e não pode participar de todos os nossos horários, nas pessoas doentes que não podem sair de casa, nas crianças que vivem em orfanatos... Ninguém aí estaria “dispensado” da catequese, porque nenhum direito é “dispensável”.Mas nosso dever como Igreja nos leva a buscar caminhos, horários e procedimentos alternativos para que essas pessoas também possam ser atendidas, sem desorganizar a catequese e mantendo em tudo a autenticidade que o seguimento de Jesus exige.
A exortação apostólica Catechesi Tradendae (em 1979) nos disse: “A Igreja, neste século XX prestes a terminar, é convidada por Deus e pelos acontecimentos, que são outros tantos apelos da parte de Deus, a renovar sua confiança na atividade catequética, como uma tarefa verdadeiramente primordial de sua missão; ela é convidada a consagrar à catequese os seus melhores recursos de pessoal e de energias, sem poupar esforços, trabalhos e meios materiais, a fim de a organizar e de formar para a mesma pessoas qualificadas. (CT 15)
Como vemos, catequese é importante e, como tal, vai exigir muito de nós. Mas, exatamente por ser tão necessária, devemos agradecer sempre a Deus por nos ter chamado para um trabalho tão fundamental, que nos vai fazer aprender sempre mais e que vai tornar nossa vida mais gratificante, criativa e aberta para uma real fraternidade.
Therezinha Motta Lima da Cruz
julho/2020