O capítulo 8 do Diretório trata ainda mais especialmente da catequese diante das necessidades específicas de cada grupo, de cada situação cultural e de cada pessoa. Deus é muito criativo e não faz duas pessoas iguais. Cada ser humano é único, tanto no nível pessoal como diante das experiências que o cercam. Por isso, o Diretório diz que “será conveniente oferecer caminhos de catequese que se diversifiquem de acordo com as diferentes exigências, idades dos sujeitos e estados de vida”. Às vezes por causa disso temos que mudar os planejamentos. Lembro, por exemplo, de um trabalho que fiz numa capela de uma favela no Rio de Janeiro. Foi lá para ampliar a catequese de um grupo de adolescentes que já havia recebido a Primeira Comunhão. Comecei pensando em transformá-los em leitores na missa. Mas diante dessa proposta eles se assustaram porque tinham sérios problemas de auto-estima, sentiam-se fracassados na escola e acharam que iam passar vergonha cometendo erros de leitura. Então sugeri algo em que não iam precisar ler: iriam fazer teatro, já sabendo as falas de cor. Eles mesmos criaram a peça que iriam encenar, ensaiaram durante o tempo que acharam necessário e se apresentaram diante da comunidade quando se sentiram seguros. A peça foi um sucesso e os aplausos criaram neles uma nova confiança no seu potencial. Enquanto isso, a catequese continuava o tempo todo tratando da importância de conhecer e seguir Jesus, mas agora eles estavam bem mais animados e confiantes. A partir daí a vida deles foi mudando; depois um médico meu amigo os treinou para serem agentes da pastoral da saúde na comunidade e cada um foi melhorando de vida descobrindo cada vez mais e pondo em ação os talentos que Deus lhe concedera.
Uma situação que o Diretório pede que seja bem considerada em cada pessoa é o tipo de família em que se vive. A Igreja fala muito em família como espaço de amor e vida, mas nem sempre é assim. O ideal seria que a família fosse o lugar natural de primeiro contato com a fé. Mas isso nem sempre acontece e há problemas e sofrimentos bem sérios em muitas famílias. O Diretório pede que a catequese com as famílias seja “caracterizada por um estilo de humilde compreensão e por um anúncio concreto, não teórico e desvinculado dos problemas das pessoas.” Podemos pensar num exemplo: para uma criança maltratada por um pai ou abandonada, um mandamento do tipo “honrar pai e mãe” pede uma conversa diferente. Às vezes, quando a situação presente é trágica, é melhor começar falando do pai ou da mãe que um dia essa criança vai ser. A partir daí ela pode ir percebendo que pais amorosos e dedicados também têm muito a ganhar. É bom que se possa fazer dessa situação negativa um estímulo para promover algo bem construtivo e até conseguir perdoar e melhorar quem não sabe o que está perdendo quando não cuida bem do filho. Foi desse jeito que minha própria experiência de filha de pais separados me deu condições para ajudar vários catequizandos e pais que estavam vivendo esse tipo de problema.
Para entender bem o que a Igreja deseja que se faça diante de problemas familiares seria importante conhecer a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, do papa Francisco. O Diretório cita uma frase desse documento ao falar de situações de famílias que não estão totalmente dentro dos nossos regulamentos, lembrando que por isso não devem ser rejeitadas: “trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita’” (Amoris Laetitia 297) .Em outra parte o citado documento do papa afirma que “batizados que são divorciados e recasados devem ser integrados mais intensamente nas comunidades cristãs, de várias maneiras possíveis, evitando todas as ocasiões de escândalo. (Amoris Laetitia” 299)
O escândalo aí viria se fossem invalidados os regulamentos da Igreja, por exemplo quanto à participação na Eucaristia. Mas podemos lembrar que na missa a pessoa pode ter um contato com Jesus também na mesa da Palavra. Uma pessoa que não pode comungar pode fazer dessa “abstinência” uma oração a Deus pelos namorados que devem se preparar para um casamento sólido, pelos casais que estão em situação difícil mas ainda podem achar soluções para os seus problemas. Afinal, quem viveu um casamento que não deu certo pode até usar essa experiência para ajudar novos casais a evitar que isso aconteça com eles.
Outro aspecto importante a ser considerado na catequese é perceber que uma criança é capaz de levantar questões acerca de Deus, do sentido da vida. São perguntas filosóficas que às vezes podem parecer incômodas mas que devem levar a uma conversa delicada e esclarecedora, em vez de serem encerradas com uma repressão que acabe com qualquer diálogo.
Enfim, o Diretório pede (no número 225) “caminhos de catequese que se diversifiquem de acordo com as diferentes exigências, idades dos sujeitos e estados de vida”. Evangelizamos conhecendo, ouvindo, buscando o melhor caminho para cada pessoa. Pode parecer complicado? Mas nesse caminho também vamos crescendo em experiência, compreensão da vida, capacidade de diálogo e solidariedade. Então nossa catequese vai ser mais construtiva para os catequizandos e para nós. E nunca nos esqueçamos da pergunta mais importante em cada situação: o que faria Jesus agora?
Therezinha Motta Lima da Cruz