Igreja vem dos termos hebraicos QAHAL (Comunidade reunida), `EDÂH (Congregação, povo congregado) e `ÃM (Povo), dando origem a “Qehal edah Yisrael” (Comunidade de Israel reunida). Gente, pessoas, povo e não templo, salão, paredes Trata-se, porém de um Povo especial, porque “convocado pelo próprio Deus”, que, por total gratuidade, fez com ele uma Aliança. Um povo que se coloca à escuta da DABAR, a Palavra de Deus: “Schmá, Israel!”.
O Cristianismo nasce no mundo judeu: José, Maria, Jesus, os apóstolos, os discípulos, são judeus. Inicialmente os seguidores de Jesus Cristo, frequentavam assiduamente o Templo e as Sinagogas, para ali “escutarem a Palavra de Deus”. Posteriormente o fizeram em casas de família, pois o centro da Assembleia era Jesus Resuscitado. E ele, para eles, era “a Palavra de Deus (Dabar Yahweh), encarnada, que ensinou, realizou gestos de libertação, deu a vida pela a nossa salvação, foi sepultado, mas ressuscitou, foi glorificado pelo Pai e conosco permanece para sempre. A razão de ser de cada um, de cada uma e da Assembleia era o próprio Jesus Cristo e não mais os Livros da Lei (a Torá). Era preciso ouvir os relatos da vida e missão de Jesus.
Eles sentiam a necessidade de concretizar, em reunião, a assembleia viva de Jesus (cf 1Cor 1,16: vós sois santuário de Deus, sois templos de Deus, sois casa de Deus), que cresce, bem firme e articulada (Cf Ef 2,21). A primeira residência que deu início à “Assembleia viva de Jesus Cristo”, em um lar, foi a Casa de Maria, mãe de Marcos, o Evangelista (cf. Mc 12.12). Depois São Paulo adotou este sentido de “pessoas congregadas em casas de família” como o sentido de Igreja. Basta ver, por exemplo, 1Cor, 16, 19 (a Igreja que se congrega na casa de Áquila e Priscila); Col, 3,15 (Ninfa e à Igreja que está em sua casa); Fl, 1,2 (a Igreja que está na casa de Árquipo). São Pedro escreve: “quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pe 2,5).
Mas, depois de Pentecostes, ao entrar no mundo greco-latino o cristianismo teve de se inculturar. E, entre as tarefas estava a de encontrar um termo para expressar o significado de “Assembleia de Jesus Cristo”. O termo EKKLESÍA pareceu-lhe ser o mais adequado, desde que adaptado à razão de ser do cristianismo. “Ekklesia” era uma grande reunião do povo, geralmente em uma praça. Os cidadãos eram convocados pelo Arauto (Kerux), o Comunicador, para receber avisos, notícias, ordens, leis. Nos lugares em que o latim predominou, a palavra foi adaptada para ECCLÉSIA. Posteriormente as línguas de origem latina a traduziram para Iglesia, Chiesa, Église, Igreja...
Em línguas anglo-saxônicas, predominou outra palavra grega: KYRIAKÒN, “casa de Deus”, dela resultando nas línguas anglo-saxônicas Church, Kirche, Kerche, Kerk. O curioso é que, no mundo latino se usa muito a noção de Casa de Deus (Kyriakon) para o templo, comumente denominado igreja, o que dificulta, em parte, o sentido mais profundo e verdadeiro de QAHAL, EKKLESÍA, como Igreja viva, de pessoas, pedras vivas, uma Assembléia, povo.
São Paulo destaca o sentido teológico da palavra, destacando de dentro do termo “Ekklesia” outra palavra chave, isto é, KLETO, que em grego tem um riquíssimo sentido e que Paulo explora bem: chamado, eleito, escolhido. É deste chamado de Jesus que deriva Ekklesía e que dá um significativo enriquecimento à noção de Igreja-Ekklesía. Para ele a EKKLESÍA é formada por pessoas chamadas, convocadas, vocacionadas, eleitas (kletoi) por Jesus, na força dinâmica do Espírito Santo, em direção ao Pai. Mas, além de cada um ser chamado pessoalmente, ele afirma que a Assembléia (Igreja) é chamada, convocada, congregada e vocacionada por Jesus. Ela se reúne por causa dele, como EKKLESÍA TOU THEOU (Assembléia de Deus, Congregação de Deus, Povo de Deus).
Segundo Paulo, os membros da Ekklesía são “irmãos e irmãs” entre si, por causa do mesmo Pai, que é “Pai Nosso”, por causa do próprio Senhor Jesus, o Filho de Deus que, nele, nos faz irmãos e irmãs dele, filhos e filhas do Pai, e, também, porque interligados pelo Espírito Santo, que é o Deus-amor.
A catequese depende essencialmente do que se entende por Igreja e do que se vive como Igreja (eclesiologia). É fundamental ter claro que “IGREJA é a Assembléia do Povo de Deus (Comunidade, povo), convocada pelo Espírito Santo, para receber as orientações de Deus (Palavra), cultuá-lo, louvá-lo, fazer-lhe a oferta maior, o próprio Jesus Cristo, glorificá-lo, em Cristo, por Cristo, com Cristo; receber Jesus Cristo como alimento (Eucaristia), e partir para cumprir a Santa Vontade de Deus, no dia-a-dia da vida e do mundo (missão): Igreja missionária, Igreja em saída, além fronteiras, para as periferias geográficas e existências, como ensino e faz o Papa Francisco.
Irmão Nery fsc