A Iniciação à Vida Cristã:
celebração da vida e experiência sacramental
Após a celebração do Ano Catequético Nacional, em 2009, percebemos a crescente reflexão e as iniciativas concretas de dioceses para aplicarem a metodologia da inspiração catecumenal para a educação na fé de adultos, jovens, adolescentes e crianças. O tema que inspirou o Ano Catequético Nacional foi “Catequese, caminho para o discipulado” e o lema era “Nosso coração arde quando ele fala, explica as Escrituras e parte o pão” (Lc 24,32.35).
O relato evangélico do Caminho de Emaús deixa evidente um percurso de fé, que parte do encontro com Jesus Cristo que se apresenta no caminho como um desconhecido e desinformado, é acolhido em casa e revela-se no partir do pão, e culmina na volta dos discípulos para a convivência na comunidade.
Também percebemos no mesmo relato, alguns elementos de uma pedagogia iniciática, que precisa inspirar nossa ação catequética. Prestemos atenção às atitudes de Jesus: a) aproxima-se e caminha ao lado; b) faz perguntas sobre a realidade; c) escuta com atenção e paciência; d) dialoga; e) ensina a partir das Escrituras; f) partilha o pão; g) torna-se memória e força para a missão.
Diante desta inspiração, decorre o tema da iniciação sacramental. Isto é, de uma experiência de vida que é renovada pela fé em Jesus. Por isso, quando falamos de sacramentos da iniciação cristã, precisamos considerar também as diferentes experiências de iniciação que marcam nossas vidas. Assim, é possível perceber a diferença que existe entre conduzir a catequese para a recepção dos sacramentos e, fazer da catequese uma experiência de vida nova que inclui momentos festivos que santificam o itinerário de fé.
A seguir, vamos tratar da iniciação enquanto experiência vivencial e antropológica e da iniciação cristã que acontece por meio da celebração litúrgica e sacramental do Batismo, Crisma e Eucaristia, conhecidos como Sacramentos da Iniciação Cristã.
A iniciação enquanto experiência vivencial e antropológica
O objetivo de uma iniciação religiosa, seja qual for a tradição, é de proporcionar a maturidade pessoal e uma nova identidade. Na tradição de fé cristã, após a iniciação sacramental, podemos afirmar com o apóstolo Paulo:
E já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2,20).
Esta afirmação de Paulo representa a maturidade de fé que todos nós somos chamados a alcançar. Assim, a primeira função de uma pedagogia iniciática é educar a pessoa na sua totalidade, ou seja, é preciso oferecer uma iniciação integral, que contemple todas as dimensões da vida: o sentir, o conhecer, o relacionar-se, o decidir e o atuar.
Iniciar uma pessoa na fé significa acompanhar o seu desenvolvimento e evoluções próprias sobre a maneira de encarar as realidades em que está inserida. A iniciação é responsável por ajudar a pessoa a construir sua identidade e tomar decisões de acordo com a fé que está abraçando e aprofundando, antes mesmo de um sinal litúrgico ou sacramental.
Assim, de maneira concreta, a dimensão antropológica da iniciação se caracteriza por atitudes de conversão, de vivência dos valores evangélicos e da adesão concreta à vida de comunidade, com suas alegrias e desafios.
Estas três realidades representam o valor significativo que existe no fazer experiência durante um processo de educação na fé. Em outras palavras, as experiências de amor e de liberdade, de sofrimento e de dor, de alegria e de plenitude, ajudam a crescer, educam nossas escolhas e nos conduzem à maturidade.
Por esse motivo, iniciar na fé é sempre uma consequência de um encantar-se com a pessoa de Jesus Cristo, que acolhe, ensina e converte nossas vidas para um novo sentido. Iniciar é fazer a experiência do encontro com Cristo, na Palavra, nos Sacramentos e na Comunidade.
A iniciação sacramental: Sacramentos da Iniciação Cristã
Quando visitamos o texto bíblico do Caminho de Emaús, conhecemos qual o efeito concreto de uma experiência com os sacramentos: o desejo vivo de (re)incorporar-se à comunidade e contar aos irmãos a experiência do coração ardente pelo ouvir as Escrituras e de repartir o pão.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que:
Os sacramentos são “forças que saem” do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do Espírito Santo operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são as obras primas de Deus na Nova e Eterna Aliança (CIgC 1116).
A iniciação sacramental é progressiva, como é progressivo o crescimento natural das pessoas, em idade e estatura. Assim, a liturgia se vale de elementos da criação para que, na celebração, os sacramentos sejam um sinal visível de Deus invisível, Criador e Providente.
A iniciação à vida cristã é composta de um fazer e de um aprender. O fazer corresponde a assumir os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (Fl 2,5), e o aprender corresponde aos nossos momentos de catequese sistemática, destinada ao aprofundamento das verdades da fé cristã, para ajudar as pessoas iniciadas a conduzir sua vida cristã com coerência. Esta é a chamada iniciação catequética: que ajuda a aprender e a fazer.
Os momentos fortes e festivos do itinerário de iniciação à vida cristã são as celebrações dos sacramentos do Batismo, da Confirmação (Crisma) e da Eucaristia. Esta dimensão, conhecida como iniciação sacramental, precisa ser preparada por pequenas celebrações e ritos que introduzem, pouco a pouco, as pessoas no mistério da fé em Cristo.
Estes pequenos ritos e celebrações ajudam a moldar e educar as mentes e os corações para que, por meio do Batismo, possa nascer a nova criatura, feitos filhos no Filho, por obra do Espírito Santo. Com a Confirmação, os fiéis são vinculados mais perfeitamente à Igreja, obrigados a dar testemunho da fé em Cristo por palavras e obras (CIgC 1285).
Batismo e Confirmação acontecem uma só vez na vida das pessoas. Neste sentido, a Eucaristia é o sacramento da plenitude e conclusivo da iniciação cristã, para que a fé seja alimentada com a frequente participação da Eucaristia, de maneira que a vida nova, feita pela partilha da vida e dos dons seja renovada ao redor da mesa e aperfeiçoe nossa maturidade de vida e de fé.
Ariél Philippi Machado
(Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC),
teólogo e especialista em Iniciação à Vida Cristã)