O fundamento bíblico mais citado quando se fala de ecumenismo é a orientação de Jesus que temos na oração que ele faz por seus discípulos (daquele tempo e de hoje) em Jo 17,20 -21: “ Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela palavra deles. Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que me enviaste.” De fato, para os que estão de fora e nem conhecem Jesus ainda, um clima de disputa e enfrentamento entre cristãos atrapalha mais do que ajuda o aceitamento da mensagem. Em diálogo fraterno, mostraremos melhor aos que precisam ser evangelizados a força construtiva desse amor que Deus nos manifestou com Jesus vindo até nós e vivendo uma vida humana. Seria de fato bem mais difícil crer num anúncio do amor ao próximo feito por grupos que estão em combate em nome desse Jesus que nos amou a ponto de dar sua vida por nós todos.
Outros textos bíblicos podem nos mostrar como Jesus queria ver seus discípulos unidos. Podemos lembrar, por exemplo:
- Em Mt 18,20 temos Jesus incentivando a união entre os que se declaram seus seguidores: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” Podemos imaginar, em vez de duas ou três pessoas, Igrejas honestas unidas lutando por uma boa causa... e Jesus vai estar ali no meio delas.
- em Jo 13,34-35 Jesus nos dá uma orientação fundamental: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” E, de fato, um dos fatores que atraiu bastante gente para as primeiras comunidades cristãs foi o clima de amor fraterno e ajuda mútua que se ali se percebia. Um dia, uma pessoa que tinha abandonado a Igreja me disse que cristãos de Igrejas diferentes brigando entre si parecem donos de supermercado disputando freguesia... e isso certamente não é algo que vai atrair os de fora.
- em Fl 2,1-2 Paulo orientava assim a comunidade que ele tinha ajudado a criar em Filipos: “Se, portanto, existe algum conforto em Cristo, alguma consolação no amor, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a unidade.” As primeiras comunidades e os primeiros apóstolos eram diferentes mas conseguiram construir uma unidade que ajudou o cristianismo a se expandir em tempos bem difíceis.
- na carta aos Romanos (Rm 15,7- 9) de novo vemos esse tema, porque nas novas comunidades havia judeus (circuncidados, como mandava a Lei hebraica) e os chamados pagãos (que não se circuncidavam). E Paulo lhes diz: “acolhei-vos uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para a glória de Deus. Pois eu vos digo: Cristo tornou-se servo dos circuncisos, para mostrar que Deus é fiel e cumpre as promessas feitas aos pais. Quanto aos pagãos, eles glorificam a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso eu te glorificarei entre as nações e cantarei louvores ao teu nome.” Essa enorme diferença de costumes culturais nos diversos lugares onde o cristianismo se espalhou acabou dando certo porque havia uma unidade básica em que o mais importante era seguir Jesus.
Aliás, uma das primeiras questões que a Igreja primitiva teve que resolver foi como lidar com as diferenças. Os apóstolos, que eram judeus seguidores de Jesus, iam anunciando seu Mestre no meio de povos de culturas diferentes – e os judeus valorizavam muito suas práticas religiosas (por exemplo: circuncisão, festas, comidas permitidas e proibidas...). Como ia ser agora? Quem quisesse ser seguidor do judeu Jesus teria que assumir todos os regulamentos desse povo? Então houve uma grande reunião, que hoje chamamos de Concílio de Jerusalém (Atos 15) , onde os apóstolos decidiram o que seria obrigatório e que diferenças seriam aceitas para acolher pessoas de povos diversos. Distinguiram o que era essencial e que variedades poderiam ser aceitas. E isso foi fundamental para a expansão do cristianismo pelo nosso mundo inteiro. Hoje somos seguidores do judeu Jesus mas temos costumes diferentes.
A catequese precisa mostrar o que é essencial e vai nos unir como cristãos, mesmo participando de Igrejas diferentes, e o que pode ser um costume diferente que não vamos seguir mas que tentamos não transformar em motivo de briga. Na verdade o ecumenismo só funciona se formos bem fiéis à nossa Igreja porque seremos a imagem dela para os irmãos de outras denominações. Algumas coisas poderemos fazer juntos, outras não. Mas acima de tudo estamos unidos em Jesus – e nada é maior ou mais importante do que ele.
Que tal conhecer sempre melhor os documentos da Igreja que tratam do ecumenismo? Percebemos que, falando em nome da Igreja, temos que saber também que tipo de comportamento ela espera de nós nesse campo? Experimente. Vai ser uma jornada bem animadora...
Therezinha Motta Lima da Cruz
julho/2020