Nossa Igreja sabe que é preciso levar em consideração a situação concreta em que se anuncia o Evangelho. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, propostas para o período de 2019-2023, falam bastante de cultura urbana e levam em conta a realidade em que estamos vivendo. Propõe-se um trabalho apoiado em 4 pilares:
1) a Palavra (animação bíblica): Como catequistas, é claro que temos que estar bem familiarizados com as Escrituras e preparados para uma interpretação correta e animadora de cada texto. Mas também temos que ouvir os catequizandos para que o texto possa de fato ser bem entendido e aplicado à vida deles e para despertar uma busca sempre mais intensa da Palavra.
2) o Pão (liturgia, eucaristia): A liturgia e os sacramentos precisam ser bem compreendidos, bem vividos e valorizados. São encontros preciosos com Jesus. É bom lembrar que a missa termina com a frase: “Vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe”. Isso significa que todos precisam levar como orientação para sua vida normal o que ali foi recebido na celebração.
3) a Caridade (serviço à vida plena): Deus quer vida plena para todos. A catequese prepara para isso em duas direções: a vida pessoal de cada catequizando e a necessidade de não sermos indiferentes quando a vida de outros está desrespeitada.
4) Ação Missionária (Igreja em saída, como diz o papa Francisco): As Diretrizes falam de dois verbos que marcam a relação de Jesus com os discípulos: vinde e Jesus que chama é o mesmo Jesus que envia. Então a catequese deve ao mesmo tempo atrair as pessoas para a Igreja e motivá-las para agir lá fora como Jesus pede.
Tudo isso se situa num Brasil cada vez mais urbano e é por aí também que a catequese deve caminhar.
Isso exige um diálogo com a realidade, tanto no plano social como diante da situação individual de cada catequizando e sua família. Por exemplo: Vamos conversar sobre os valores que devem orientar as famílias em geral, mas também precisamos ouvir os catequizandos que têm situações familiares difíceis. Crianças e adolescentes órfãos, com pais separados ou outros problemas domésticos precisam de uma orientação especial, conversas particulares de apoio amoroso. As populações das favelas também requerem um trabalho mais criativo e adaptado às suas necessidades. É comum que aí tenhamos catequizandos com problemas por falta de auto-estima, que precisam descobrir seus talentos e participar de tarefas em que se sintam valorizados. Já vivi uma experiência em um desses ambientes e descobri que colocar adolescentes fazendo teatro, bem preparado e atraente, de um jeito que fossem aplaudidos na comunidade, tinha um efeito muito animador. Depois foram preparados também para serem agentes de serviço na comunidade, ajudando os adultos e se sentindo capazes de ir adiante e transformar suas próprias vidas. Não há soluções estereotipadas para essas situações, mas a catequese criativa e dialogante pode ir criando novas atividades que animam os que se sentem desvalorizados. É bom lembrar que Deus pede para “amar ao próximo como a si mesmo. Quem não se valoriza não está preparado para amar. Auto estima não é vaidade nem arrogância, é condição fundamental para que alguém se atreva a fazer algo bom que ponha em ação os dons que realmente tem.
Citando o Documento de Aparecida, o texto das Diretrizes afirma: “A fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio a suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio a suas dores e sofrimentos”.(DAp 514) Se Deus vive aí, temos que preparar para que a sua presença seja reconhecida e animadora, tanto para cada pessoa resolver suas questões pessoais, como para estar preparada para ajudar fraternalmente outras.
Fala-se também em “encontrar ousadia e criatividade para se reinventar e descobrir caminhos novos para reconstruir a vida e a paz” (DGAE 67). Daí se conclui que não podemos ter uma catequese rotineira. Temos que estar sempre percebendo o que, na realidade que nos cerca, precisa ser transformado e, com amor e responsabilidade, vamos ser criativos sem deixar de ser fiéis ao essencial.. Nossas Campanhas da Fraternidade têm boas orientações sobre reconstruir a vida e a paz, mas nossas próprias experiências, nossa espiritualidade e nossas conversas com os catequizandos vão igualmente apontar caminhos para a formação de cristãos ativos na construção do bem.
Cada comunidade vive a realidade do seu entorno, mas há também realidades pessoais que precisam ser conhecidas e entendidas. Então, temos dois caminhos que serão percorridos conjuntamente: uma programação adequada à realidade local e atendimentos particulares para conhecer bem os problemas, as esperanças, as alegrias, as expectativas e as possibilidades de cada pessoa.
Percebemos que tudo isso não é só um trabalho exigente, mas uma aventura emocionante que vai transformar também nossa vida?
Therezinha Motta Lima da Cruz
junho/2020