Muitas vezes quando falamos de ecumenismo e diálogo inter religiosa há pessoas que pensam que estamos sendo “menos católicos”. Isso acontece porque não conhecem os nossos documentos que, desde o concílio Vaticano II, vêm sempre dizendo alguma coisa sobre a necessidade de uma boa relação com cristãos de outras Igrejas e de um diálogo respeitoso com outras religiões. Isso não invalida, é claro, nosso indispensável trabalho missionário mas, se vamos apresentar nossa Igreja a outros, temos que ser fiéis ao que ela mesma declara nesse campo. Não seremos ecumênicos “apesar” de sermos católicos, seremos ecumênicos e abertos ao diálogo inter religioso  porque essa é a orientação da nossa Igreja e, como tal, fica sendo parte da nossa identidade.

A Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (A catequese do nosso tempo, que o papa JoãoPaulo II nos deu em 1979) já falava assim sobre a dimensão ecumênica da catequese:

-  o movimento ecumênico, inspirado pelo Espírito de Jesus,  tem impelido a Igreja Católica a procurar, juntamente com outras Igrejas ou confissões a unidade desejada pelo Senhor. (CT 32)

-  a catequese não pode ficar alheia a esta dimensão ecumênica. (CT 32)

- todos os fiéis, cada um segundo as suas capacidades próprias e a sua situação na Igreja, são chamados a participar no movimento para a unidade. (CT 32)

- é importante fazer uma apresentação correta e leal de outras Igrejas e comunidades eclesiais, das quais o Espírito de Cristo não recusa servir-se como de meios de salvação (CT 32)

- tal apresentação ajudará os católicos, por um lado, a aprofundarem a sua própria fé e, por outro lado, a melhor conhecerem e estimarem os outros irmãos cristãos. (CT 32)

- ela há de ajudar também os não-católicos a melhor conhecerem e apreciarem a Igreja Católica e sua convicção de ser o “meio geral de salvação”.

E CT 32 resume assim essas orientações: “A catequese será ecumênica, enfim, se ela se esforçar por preparar as crianças e os jovens, bem como os adultos católicos,  para viverem em contato com não-católicos, afirmando a própria identidade católica com respeito pela fé dos outros.” 

Isso não significa ignorar as diferenças nem buscar uma uniformidade: trata-se de viver uma certa unidade no meio da diversidade, fundamentados naquilo que todos os cristãos têm em comum. Também não há aí nenhuma diminuição da percepção de termos a nossa Igreja como a fonte mais completa da vivência da fé cristã, de nossa tradição totalmente ligada ao que Jesus passou para os apóstolos.  A catequese continua sendo inteiramente católica, ensinando e estimulando aquilo que a nossa própria Igreja nos pede no relacionamento  também com os de fora. Estar em diálogo não significa concordar com tudo mas ouvir com respeito, buscar parcerias no que for possível e adequado e reconhecer o que houver de bom em outras identidades religiosas.

Esse diálogo também apresenta uma boa imagem da nossa Igreja, que quer ser instrumento de paz e fraternidade. Há muitos trabalhos que podemos fazer juntos, mostrando ao mundo que a mensagem de Jesus nos une e nos põe a serviço da construção de um mundo melhor.

Nossos catequizandos podem ter na sua própria família e no meio de seus amigos pessoas de outras Igrejas. A dimensão ecumênica será um fator positivo a mais para se sentirem bem no ambiente católico percebendo nossa identidade como algo mais construtivo e solidário. Será também um modo eficiente e amigável de responder aos que estão afastados de nós, mostrando que Jesus é o centro da nossa fé, o mais importante elemento que pode nos unir e nos motivar na promoção dos valores do Reino que ele nos anunciou.

Compreendemos  que um clima de diálogo motiva mais do que um ambiente de enfrentamento? Percebemos que cristãos unidos, mesmo de Igrejas diferentes, têm mais força para fazer o bem que Jesus quer ver entre nós?

Therezinha Motta Lima da Cruz

agosto/2020