O terceiro dia do Seminário Nacional de Iniciação à Vida Cristã, promovido pela Comissão de Animação Bíblico Catequética da CNBB, foi dedicado à partilha de experiências de implementação da IVC em cinco Dioceses de várias regiões do Brasil. O encontro foi coroado com um debate espontâneo em torno das perguntas que surgiram a partir das experiências partilhadas.
Um plano de IVC encarnado na realidade
A primeira experiência em destaque foi da Diocese de Castanhal, Regional Norte II. Vitor Paiva iniciou com uma breve contextualização histórica dos passos dados na diocese para se chegar ao momento atual. Enfatizou que um destaque no processo de IVC é o “casal catequista”, que depois de um processo de preparação para a missão, torna-se responsável por acompanhar os filhos com itinerários paralelos ao processo de IVC. Este é um dos elementos que fazem parte da ênfase que se dá à família em todo o processo. Há um esforço de acompanhamento desde à fase de gestação, com a presença dos padrinhos, com apresentação da criança na comunidade, visitas domiciliares aos pais que pedem o batismo, o que evidencia a necessidade de multiplicar os catequistas para que possam fazer os processos na família.
Os Quatro pilares para a ação evangelizadora, propostos pela CNBB: Palavra, Pão, Caridade e Missão, são abraçados e assumidos pela diocese... No entanto, a pandemia, com o necessário isolamento social, colocou em crise o trabalho iniciado em 2019. Foi preciso reformular a equipe diocesana de catequese, passando para uma equipe diocesana de IVC. Uma visão mais ampla, dialogando com a liturgia, com a família, e a juventude. Tendo presente o Sínodo de Amazônia, buscou-se elaborar um itinerário de IVC de adultos encarnado na realidade da Amazônia, bem como um itinerário para cada uma das outras etapas (crianças, adolescentes e jovens). Esse material vem sendo trabalhado por dirigentes, mas depois vão sentar-se com ribeirinhos e outras pessoas da comunidade para ajustar a linguagem ao alcance do povo. Posteriormente será preparado um novo diretório diocesano para a IVC.
Perseverar no “caminho dos sonhos”, um projeto de vida
Na sequência, Padre Edson de Bortoli partilhou a caminhada de IVC implementada na Diocese de Caçador, Santa Catarina. Salientou que o processo começa a ganhar força a partir de 2009 entre catequistas e outros agentes, bem como com formações envolvendo os padres em debates, estudos e aprofundamentos. Em 2017, com a chegada do Documento 107 da CNBB, surge, propriamente, o projeto diocesano de IVC de inspiração catecumenal, reforçando a centralidade da palavra de Deus, a unidade sacramental, a sintonia com a liturgia. Decidiu-se pela formação da comissão diocesana de IVC o que fez com que esse processo chegasse a toda a diocese.
Viu-se a necessidade de criar materiais com os itinerários para os diferentes tempos do processo IVC. Valorização da ordem original dos sacramentos iniciando com crianças e adolescentes. Batismo, Crisma, Eucaristia. Proposta hoje assumida em todas as paróquias da diocese. Busca-se a centralidade da Palavra de Deus, daí o incentivo à Leitura orante, valorizando a arte, com ilustrador ligado à caminhada de fé e de educação. Valorização da dimensão litúrgico/celebrativa com vivências ou encontros familiares, ritos, bênçãos...
Há uma participação ativa das famílias, compreendidas como o sujeito fundamental no processo de IVC. Também encontros familiares, que são as “vivências” com as famílias dos catequizandos, para rezar e propor o encantamento com a pessoa de Jesus. Há uma busca de constante formação e acompanhado em todas as paróquias, em um clima de diálogo, reflexão, estudo, aprofundamento e dicas práticas que dão unidade desde à base até os dirigentes. Um destaque especial é a construção de um projeto de vida no processo eucarístico, “perseverar no caminho dos sonhos”, fazendo eco à admoestação do Papa Francisco: “Não deixem que roubem os seus sonhos”.
Um caminho experiencial com os catequistas
Padre Leandro Francisco Pagnussat foi quem partilhou o processo de IVC na Diocese de Goiás. Enfatizou que ao aprofundar o RICA – Ritual de Iniciação Cristã de Adultos – decidiu-se por avançar com o tema da catequese e sua relação com a Iniciação Cristã, buscando outros documentos, sobretudo o Documento de Aparecida. Depois destes encontros, passou-se a necessidade de um caminho experiencial com os catequistas. A catequese foi suspensa pelo período de um ano, para melhor formação dos catequistas. Esses passos levaram a uma experiência diferenciada e de maior envolvimento dos catequistas com a caminhada da comunidade. Maior empenho na vivência pessoal da fé.
No processo de ICV da diocese, os acompanhantes têm sido um diferencial no caminho catecumenal com os adultos. Favoreceu um maior envolvimento com a caminhada da comunidade cristã; cresceu o entusiasmo em relação à vocação do catequista e o vínculo de relação entre eles. Com isso deu-se início a um processo diocesano de formação de equipes de coordenação paroquial, seguindo o modelo de inspiração catecumenal com duração de dois anos com um encontro por mês. Na formação são trabalhadas as dimensões bíblica, teológica, litúrgica, catequética e experiencial. Como frutos desse processo houve maior despertar para a vivência da fé, maior engajamento nas pastorais e serviços da comunidade, maior testemunho cristão e crescimento da consciência de sua missão no mundo. O material elaborado que acompanha cada tempo do processo de IVC foi publicado, em cinco volumes, pela Editora Vozes sob o título: “Iniciação à vida Cristã”.
Toda a Igreja como uma casa de Iniciação à Vida Cristã
Outra experiência de IVC veio da Diocese de Jundiaí-SP e foi partilhada pelo Padre Erickson Ramos da Silva. Iniciou destacando que se trata de um processo catequético que se inicia no ventre materno, uma catequese continuada, que se estende por toda a vida: batismo, pré-catequese, eucaristia, perseverança, crisma, opções, noivos, matrimônio, batismo... Nesse processo, o anseio é que toda a igreja diocesana se tornasse uma casa de IVC. Para isso foi criada uma comissão de IVC diocesana. Com isso, o modelo diocesano de coordenação passou a ser assumido também pelas paróquias com as mesmas funções.
Instituiu-se dois anos de formação iniciática para os catequistas no Núcleo de Formação São José de Anchieta. Mas o processo de formação é continuado e permanente, baseado no tripé: “Ser, Saber, Saber fazer”. Há também formação para os coordenadores paroquiais, levando-os à vivência dos ritos diante da assembleia. E ainda, a formação do clero e aulas para os seminaristas no propedêutico desde o ano de 2018.
Há também catequese específica para pais e padrinhos, catequese com crianças da primeira infância, catequese mista com crianças e adolescentes, catequese com adolescentes e catequese catecumenal com jovens e adultos. Não obstante tudo isso, há também dificuldades: clérigos, não acreditam ou não entendem o processo; pais que insistem na pressa pela recepção dos sacramentos; catequistas de pais e padrinhos que não se sentem catequistas, mas palestrantes de um curso; escassez de ministros, os introdutores e padrinhos para acompanhar os catequizandos.
Por fim, Padre Bruno Moreira Rodrigues e Padre Emílio José Castelo Ferreira, apresentaram os passos dados no processo de IVC na Arquidiocese de Fortaleza. Por um problema técnico não foi possível acompanhar essa parte, pela qual pedimos desculpas em não relatar algo mais concreto dessa experiência.
Depois das questões apresentadas e respostas às perguntas, Dom Armando Bucciol, da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, de um modo terno, fraterno e missionário, agradeceu a todos, incentivou a perseverar na importante missão e abençoou a todos.
Que as sementes lançadas encontrem terreno fecundo para fazer florescer a IVC em todo o Brasil.
Denilson Mariano
In: Revista O Lutador 07.04.22