Durante a 4ª Semana Brasileira de Catequese, em novembro de 2018, a leiga catequista Terezinha Cruz, ao receber homenagens pelo seu ministério, falou que costuma empregar textos não propriamente religiosos em seus encontros catequéticos. Dentre esses textos ‘profanos’, ela citou produções cinematográficas, histórias em quadrinhos, letras de música e poemas, cujo objetivo consiste em nos fazer reportar a assuntos que em si, não seriam corriqueiros para o espaço da catequese. Naquele momento, recordei-me de que havia ouvido de um renomado pastor protestante há alguns anos que falou numa conferência que o cristão tem que aprender a fazer teologia com a Bíblia e o jornal do dia.
Reportei-me ao documento Catequese renovada, de n. 26, da CNBB, que expressa sobre a importância da evangelização numa interação entre fé e vida. Nesse caso, a fé consiste no anúncio e acolhida da Palavra de Deus, no ensino da doutrina da Igreja, vivência dos ritos litúrgicos, sacramentais, da oração e dos valores da moral cristã. Mas tudo isso deve ser confrontado com a vida do interlocutor e a literatura é um veículo propício através do qual a vida concreta das pessoas com seus problemas, angústias, anseios e beleza chega ao ambiente catequético.
Atualmente, ao falarmos de catequese a serviço da iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal centrada no querigma e na mistagogia, podemos correr o risco de nos limitarmos somente aos textos religiosos em si, tanto os doutrinais como os litúrgicos e esquecermos outras fontes, como, por exemplo, a literatura profana. Todavia, é preciso termos consciência de que a catequese não deve ser apenas doutrinal ou teológica, mas precisa também se valer das fontes não sagradas em si, pois elas revelam aspectos da vida que nos faz não apenas refletir as questões existenciais e sociais, mas também nos ajuda a interiorizar a mensagem cristã em nossa vida. Quanta mensagem de vida cristã podemos inferir a partir de leitura de obras como: Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, que revela o drama da vida e da morte; Vidas secas, de Graciliano Ramos, que apesar de não apresentar a religião de maneira evidente, leva-nos a pensar na secura que acomete muitas pessoas excluídas das condições indispensáveis a uma boa qualidade de vida; ou ainda os poemas de Adélia Prado, que misturam a mística religiosa com o cotidiano da vida, levando-nos a perceber que não há separação entre religião e vida. Há muita contribuição que a literatura profana pode trazer para a nossa ação catequética, principalmente quando confrontada com os textos sagrados da Bíblia, do magistério eclesiástico e da teologia.
A Constituição Dogmática Gaudium et Spes, no número 62 afirma: “A literatura e as artes são também segundo a maneira que lhes é própria, de grande importância para a vida da Igreja”. Tal importância, segundo o documento, dá-se por conta das artes, que em suas diferentes formas, conseguem elevar a vida humana em todos as suas dimensões. Desse modo, podemos inferir que a literatura não somente ajuda na comunicação de uma mensagem verbal, mas é fator indispensável para a beleza do encontro catequético em si tornando-o mais leve, sem aquele fardo pesado que a doutrina e obrigações morais podem sugerir.
Não apenas Terezinha Cruz, mas muitos outros catequistas, com certeza, já trazem o texto literário profano para a catequese para confrontá-lo com aqueles considerados sagrados na tradição cristã. Penso que essa prática pode perfeitamente se estender a muitos outros catequistas e agentes de pastoral e assim fazer de seus encontros de evangelização um lugar de interação fé e vida, mediante o poder da palavra de Deus e da estética literária.
Luis Freitas
In: Jornal do Maranhão, janeiro 2019