O termo católico deriva do grego kath’olón, que quer dizer segundo o todo, refere-se à integralidade, à totalidade. Com frequência, católico remete a uma postura integral, a uma totalidade em termos de visão de mundo. Ser católico significa apoiar-se sobre o fundamento que permite ao ser humano encontrar-se com tudo o que existe e, ao mesmo tempo, que se decida por algo bem determinado e, acima de tudo, por Alguém – Deus revelado em Jesus Cristo.
Essa foi a perspectiva defendida por Romano Guardini ao sustentar que a catolicidade não é nenhum tipo entre outros tipos de visão de mundo, mas a atitude global de integralidade essencial que acolhe, em si, diferentes tipos, pois encontra sua raiz na única fonte da verdade: Deus. Para ele, aquele que é especificamente católico vive da universalidade de sua própria natureza e não tem nenhum adversário que não seja a negação. Isso ocorre porque a Igreja Católica é portadora do olhar total de Cristo sobre o mundo. A Igreja conserva sua catolicidade na medida em que conserva seu olhar no horizonte maior e último, como o de Cristo e, igualmente, se insere inteiramente na situação histórica.
Essa catolicidade impede que se pense em forma sectária ou polarizada. A Igreja é Católica porque alarga seu horizonte de compreensão no diálogo e na proximidade. A dimensão ecumênica e dialógica é necessária para que a catolicidade não reduza sua dimensão totalizante. Todo sectarismo é um estreitamento da racionalidade católica.
A palavra católico não aparece no Novo Testamento para designar a Igreja. O primeiro autor a usar esse qualificativo foi Santo Inácio de Antioquia, no século II, quando escreveu: “Onde comparecer o Bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que, onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica.” Nessa citação, o significado do termo católica tanto pode indicar universal quanto verdadeira, autêntica. As duas interpretações se combinam entre si, sem uma contradizer a outra.
O mesmo ocorre no relato do martírio de São Policarpo de Esmirna, quando a palavra católica tanto significa o conjunto das Igrejas locais em comunhão quanto a verdadeira Igreja de Cristo. Igualmente, Vicente de Lerins completa essa reflexão com os aspectos temporal e sociológico: “Católico é o que se acreditou sempre em todas as partes por todos.” Isso remete tanto à universalidade quanto à ortodoxia. Essas se traduzem, geograficamente, em todas as partes; historicamente, sempre; e numericamente, por todos.
A questão teológica que se impõe é saber em que consiste essa universalidade que continua a ser professada mesmo que nem toda a humanidade faça parte da Igreja. Inicialmente, é preciso considerar que a catolicidade ou universalidade da Igreja é mais uma vocação e missão do que uma realidade já alcançada. Jesus Cristo envia seus discípulos, de todos os tempos, para irem pregar o Evangelho (Mt 28,19) a todas as pessoas, em todos os lugares, para que todos sejam suas testemunhas até os confins da Terra (At 1,8).
Católico e universal é o desígnio salvífico de Deus. Ele quer que todos se salvem e chegam ao pleno conhecimento da verdade (1Tm 2,4). Isso implica dizer que na Igreja não deve haver acepção de pessoas, pois é preciso fazer-se tudo, para todos (1 Cor 9,19-23). A Igreja é católico-universal, portanto, como congregante, deseja reunir toda a humanidade no desígnio de salvação. Ela, contudo, não está congregada em toda a Terra. Ela nem mesmo conseguiu a unidade entre todos os cristãos, o que é determinante para sua universalidade, pois o desejo de Cristo é “que todos sejam um” (Jo 17,21).
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo Metropolitano de Santa Maria-RS
Presidente da Comissão Episcopal para Animação Bíblico-Catequética
Foto: site do Vaticano 08.03.23