Catequese Urbana
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29/08/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Ouvir, explicar com delicadeza e acolher
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Catequese não é um discurso, é diálogo e convivência. A primeira mensagem não é a que chega com os conteúdos que vamos ensinar. É o que cada catequizando percebe quando é bem acolhido, quando sente que sua presença é valorizada, que tem vez e voz no meio da turma e da comunidade. A catequese precisa ser vivida com alegria num ambiente onde todos sabem que são bem recebidos e vivem a agradável experiência de fazer novos amigos.

Uma parte importante do acolhimento é saber ouvir tanto os sentimentos, alegrias e problemas dos catequizandos como as perguntas, às vezes inesperadas e estranhas, que podem surgir a partir dos assuntos que estivermos abordando.

Na escola, minha neta foi várias vezes acusada de “atrapalhar a aula” porque fazia perguntas que o professor considerava incômodas. Mas as perguntas, especialmente as mais inesperadas, são uma ocasião interessante para criar uma comunicação mais adequada e construtiva. Quem pergunta está interessado no que está ouvindo. A pergunta bem recebida também é um bom modo de saber como o outro pensa, o que cada um considera importante.     

Um dia, essa minha neta ouviu algo na catequese e queria comentar comigo. Começou perguntando: _Vovó, esse Jesus de que a senhora fala tanto também fazia pecados , não é? Estranhei a pergunta e quis saber de onde ela tirara essa idéia. Ela disse que lhe tinham contado que um dia, na entrada do templo, Jesus derrubara as mesas dos comerciantes e ainda os expulsou com um chicote. E com a sua inocência infantil perguntou: _Se eu fizer isso com os vendedores da praça aqui perto não é pecado? Ela não tivera coragem de perguntar isso na igreja porque achou que ficariam zangados com ela. Mas aí tivemos uma conversa comprida para que ela entendesse que certas coisas que parecem erradas podem ser justificadas em situações especiais. Usei um exemplo: imagine que um vizinho seu foi ameaçado por um maluco que quer bater nele e se escondeu no seu quarto. Aí o maluco chega e pergunta quando foi a última vez que viu seu vizinho. Nessa hora, o melhor seria dizer a verdade ou protegê-lo com uma mentira? Depois conversamos sobre o que os vendedores estavam fazendo e como Jesus gostaria que fosse o comportamento dos que estavam no   templo. Foi uma conversa amigável, não foi uma censura por considerar a pergunta “desaforada”.

Outras vezes, especialmente em catequese de adultos, a pergunta pode revelar um despreparo inesperado de quem a faz. Num curso de Bíblia, um senhor que frequentava fielmente a igreja e nunca perdia a missa de domingo, perguntou à catequista: _”Você falou que sábado era o Dia do Senhor para os judeus, mas para nós é o domingo. Por que? Aconteceu alguma coisa importante num domingo que fez a gente mudar de dia?” Aí não tem cabimento dar uma resposta que faça a pessoa se sentir ignorante demais. Vale mais agradecer a pergunta e conversar delicadamente sobre grande importância da ressurreição de Jesus no domingo. O agradecimento tem que ser convincente e sincero, já que toda pergunta ajuda a fazer um trabalho mais adequado porque nos coloca diante das reais necessidades das pessoas que estamos evangelizando. 

Mas além das perguntas que precisam de uma boa e delicada resposta, a conversa com os catequizandos também pode ser fonte de aprendizagem para nós. Deus fala ainda hoje na vida de cada um e mesmo o olhar inocente de uma criança pode nos mostrar coisas importantes que ainda não percebemos. Conhecer as aspirações, os ideais de cada pessoa, em todas as faixas etárias, é um caminho para compreender melhor a vida. Isso é especialmente importante na leitura orante da Bíblia, onde cada um se expressa a partir de sua situação peculiar. Um clima de acolhimento, diálogo e compreensão, em vez de simples julgamento, deixa todos mais á vontade para partilhar a conversa que querem ter com Deus.

Tudo isso nos mostra que, na catequese como em tantas outras situações da vida, podemos ao mesmo tempo ensinar e aprender, acolher e ser acolhidos, crescer juntos diante do Pai que é de todos. Sabemos viver essa aventura emocionante?

Therezinha Motta Lima da Cruz

junho/2020

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