Catequese Urbana
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29/08/2020 Therezinha Motta Lima da Cruz Catequese Urbana Recursos do mundo urbano na catequese
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Jesus, combinando com a cultura de seu povo, ensinava contando histórias. É um estilo bem judaico de falar da vida, de um jeito que aparece também em muitos livros de vários povos e religiões. Inventar histórias para passar uma mensagem não é mentir e enganar, é vestir o conteúdo a ser comunicado com uma roupagem mais atraente, capaz de comunicar tudo com mais profundidade e de um jeito que fica bem guardado na memória. Os judeus fazem muito isso. Histórias inventadas podem impressionar e fazer pensar. Às vezes parecem uma brincadeira, mas o recado permanece bem comunicado.

Podemos pensar num exemplo desse jeito de expressar uma idéia. Muitos séculos depois da saída do povo do Egito, alguns judeus ficavam incomodados com a narrativa das pragas e da morte dos primogênitos como estavam escritas e transmitidas oralmente na tradição do povo. Para eles , parecia algo que não combinava com a misericórdia de Deus e o amor ao próximo. Então, alguém, para expressar esse sentimento, inventou uma história assim (que, é claro, não está na Bíblia) : Anjos no céu viram como o povo tinha saído do Egito depois que a morte dos primogênitos assustou seus opressores. Então resolveram fazer uma festa para comemorar essa vitória. A festa estava animada mas, de repente, Deus apareceu e mandou parar com todo aquele alvoroço. Os anjos tentaram se justificar dizendo: _Senhor, estamos celebrando a vitória do teu povo! Deus entendeu , mas explicou por que não havia ali motivo para a festa, dizendo: _ Sei o que vocês pensam , mas vocês esqueceram que aqueles que morreram também eram meus filhos... Quem criou essa história não estava querendo falar de algo que de fato aconteceu, nem estava tentando criticar a descrição bíblica da saída do Egito, desvalorizando a Escritura . Estava querendo ajudar o povo a perceber que fatos e idéias que até foram orientadores no passado não serviriam agora para justificar pedidos de destruição dos inimigos porque o povo já havia progredido na compreensão do projeto de Deus e estava agora preparado para sentir que a compaixão de Deus não excluia ninguém e gerava uma paz mais construtiva. Depois Jesus vai ampliar essa idéia, mandando perdoar setenta vezes sete (quantidade simbólica que indica perdoar “sempre”), morrendo por todos e até pedindo pelos que o torturavam na cruz: Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem.

Hoje, na vida urbana, temos muitas histórias, poemas, canções, filmes que podem ser usados como material de reflexão até na catequese. Podemos pensar, por exemplo, em duas histórias que a criançada conhece bem:

1) Pinóquio - Gepeto fabricou muitos brinquedos mas Pinóquio era especial e seu criador queria que ele se tornasse um “menino de verdade”. Uma fada lhe deu o Grilo Falante, que devia funcionar como a sua consciência, indicando o certo e o errado. Quando Pinóquio não ouvia o Grilo se dava mal. Seguindo maus exemplos foi parar na Ilha dos Prazeres, mas acabou descobrindo que ali todos se transformavam em burrinhos. Conseguiu sair a tempo e foi em busca de Gepeto, que, procurando também por ele, tinha ido parar na barriga de uma baleia. Arriscando sua vida, foi até a baleia, de onde saiu com seu pai. Ao chegar com ele à praia pareceu que estava morto. Mas , na verdade, agora sim, tinha se transformado num menino de verdade.

Podemos ler uma história desse tipo só como diversão. Mas tendo Deus no coração podemos refletir sobre a vida a partir das idéias que ali estão. Podemos lembrar que Deus também criou muita coisa, mas o ser humano foi especial, visto como filho. Erramos muito, nem sempre ouvimos a voz da consciência, às vezes escolhemos prazeres que nos afastam da verdadeira sabedoria. Mas se voltamos para o Pai, com coragem, dedicação adesão ao seu projeto, vamos ser de fato o que Ele quis ver em nós desde o começo.

2)Shrek - é um ogro, quase visto como um monstrinho. Apaixona-se pela Fiona, que se apresenta a ele como uma princesa bem bonita. E agora? Como uma princesa vai aceitar um ogro? Essa história nos mostra que há gente querendo fazer uma revisão de antigas idéias dos contos sobre seres que são rejeitados por sua aparência diferente do comum. Na história do Patinho Feio, por exemplo, ele fica apreciado só quando aparece como cisne. Na historia da Bela e a Fera, para haver um final feliz é preciso que a fera volte a ser o que se considera um rapaz bonito. Mas agora vai ser diferente. É Fiona que vai se revelar semelhante aos ogros e Shrek não vai precisar mudar de aparência para ser amado e formar uma boa família.

Vemos hoje muita gente ser julgada pela aparência e sofrer por causa de preconceitos. Mas cada um precisa ser apreciado pelo seu comportamento, pela escolha do bem e, por isso, deve ser valorizado. É uma história que pode gerar uma conversa sobre a necessidade de deixar de lado o bulling, tão humilhante para quem não se parece com o que a maioria acha bonito ou está na moda.

Não é para ficar só na história como diversão. O objetivo é descobrir uma mensagem que pode se relacionar com o que Jesus nos ensinou. A história ajuda os catequizandos a não esquecer o que foi conversado. Eles podem até ser convidados a criar novas histórias que ilustrem o recado que Jesus queria nos dar.

Alguns filmes também podem motivar uma boa conversa sobre o que Jesus espera de nós. Há um, por exemplo, que se chama “Antes de partir”. É a história de dois homens, um rico e um pobre, que estão doentes, com os dias contados para a morte. Resolvem então fazer uma lista de coisas que querem fazer “antes de partir” e saem, em colaboração mútua, para realizar o que está na lista. E nós? Em vez de esperar o dia da morte, por que não começaríamos a fazer agora mesmo as coisas importantes que Jesus nos ensinou? O que estaria na nossa lista? Como isso ficaria mais fácil se houver uma boa parceria?

Catequistas podem ir juntando uma coleção de histórias (há muitos livros com parábolas educativas), letras de músicas, poemas, frases que passam boas mensagens, reportagens de jornal que fazem pensar no que seria bom fazer na vida, provérbios, cenas de filmes ou de livros interessantes. Fatos da vida quotidiana, conversas e experiências que se revelaram construtivas podem ter relação com algo que nos vem da mensagem bíblica, especialmente das orientações de Jesus. A própria Bíblia tem livros classificados como “sapienciais” e esse tipo de sabedoria se relaciona com a presença de Deus entre nós no dia a dia. Dentro desse estilo, a catequese pode ir oferecendo materiais que vão ser mensagens sobre o que se aprende observando a vida e podem fazer parte das conversas que todos nós vamos nos acostumando a ter com Jesus e depois podemos comunicar a outras pessoas.   

Um trabalho assim ajudaria os catequizandos a relacionar com mais intensidade fé e vida, já que a nossa fé não nos leva só a um conjunto de ideias e conhecimentos, mas se manifesta especialmente no que conseguimos testemunhar com o que valorizamos e fazemos, com o tipo de pessoa que cada um consegue ser.

Afinal, a vida de cada um de nós deixa no mundo uma história. O que gostaríamos que essa história comunicasse?

Therezinha Motta Lima da Cruz

junho/2020

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